segunda-feira, 13 de abril de 2009
Mar caseiro
Lembro que um dia eu visitei o maior mar que eu jamais vi. Foi um encontro às escuras. E o arrepio era como uma lâmina desobstruindo os poros que insistiam infantis num desmaio,pra respirar melhor(pra eu ver o sonho do mar). Era um novo mar num velho chão. E suas águas,de diferentes tons, verdes de espera,pareciam ansiar olhares humanos que transformassem seus maremotos em pequenas ondas de bem-estar. Pois que os pássaros que lhe roubavam se despediam com um sorriso machucado,coisa de quem sorri sem ter boca,deixando a surpresa delicada de uma pena cair pra acompanhar suas ondas sensuais. (Ainda e ainda e ainda) E assim seguiam suas gotas todas juntas num beijo...sensação de limiar de lábios com a carne de sua paixão. O mar era pura paixão. Puro encontro sem nostalgia de suas correntezas,pura decência em sua fluidez de bicho. Ninguém sabe aonde acaba o mar,só se sente a sua homogênea busca, foi assim que eu o vi pela primeira vez. Paralisada,sem transbordar nada(também serviu pra eu me explodir um pouco). Pelo contrário,a exatidão de meus limites era enorme,diante daquela materialização sublime que vai diminuindo sua profundidade até a margem até só restar a consciência. Se fosse pra eu me perder eu veria um mar branco.. Não,eu não queria tocar nessas ondas de ondas,nesse mar escondendo sua fertilidade sob ornamentos. Se fosse pra eu esquecer..Por não saber sonhar e estou emprestando,ofuscada,a minha dádiva,como quem toca sem saber que não tocou. Apenas a vaga lembrança...foi suficiente para revive-lo,com seus animais submarinos usufruindo medos e dilatando as pupilas da coragem. Então sobrevoando esse mar -deixei meus limites lá pra que eu possa ir e voltar na mesma onda do acaso- só posso crer que me vejo no espelho desse mar caseiro,que pra sempre será amador e desertor de si mesmo,pra renascer nas horas vagas de sonolência mística.
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